Por que ouvimos música?

Mistérios do homo sapiens: ouvir e fazer música é tão ou mais antigo quanto acender o fogo

O que nos levou a querer domar o som, as notas musicais, a descobri-las?

Dó, ré, mi, fá, sol, lá, si, dó (a gente aprendeu desde cedo a repetir a oitava e nem sabe o porquê) é tão universal quanto contar em inglês. One, two, three, four, five, six, seven, eight. Você pode não saber nada de música, mas tem algo no teu cérebro que te faz marcar os compassos de uma canção batendo o pé em ritmo certinho. Alguns insistem em batucar na mesa do escritório com suas bic enquanto finalizam o relatório mensal ou estão a pensar no próximo planejamento financeiro. Pois, ao mesmo tempo em que estão concentrados em cálculos e análises, acionam uma parte da mente que está instintivamente ouvindo música. Azar de quem está do lado de fora. A estes lhes restam intermináveis toc, toc, toc, téc, téc, téc, pá!

Recordações mais antigas de infância são sonoras, auditivas. A doce melodia do cantarolar da sua mãe. O chiado do bule associado ao tom de uma nova canção. O rádio da casa ligado no momento do café da manhã e na arrumação da mochila antes de ir pra escola. A voz do pai, porto-seguro, fazendo vezes de trilha sonora em narrativas de histórias infantis. Pra dormir ou pra entreter. Hoje em dia está na moda bater panela. Mas na minha época isso significava outra coisa. Bater panela era coisa de molequinho que nem sonhava em ser baterista. Bater em coisas com colheres ou pedaços de pau na primeira infância, produzir sons, ritmos e efeitos, é um dos mecanismos mais básicos de desenvolvimento humano e interação da criança com o mundo que a cerca. Chegamos à musicoterapia.

Mistérios do homo sapiens. Ouvir e fazer música é tão ou mais antigo quanto acender o fogo, cozinhar a caça ou rabiscar cavernas com restos de carvão. Porque música, antes de tudo, é comunicação. A linguagem ancestral não estava exatamente pronta. Eram gritos e gemidos nas mais diversas tonalidades que definiam de sinais de alerta a manifestações de carinho. Seriam aquelas as primeiras cantigas?

Faço as perguntas. Por que ouvimos música? Por tudo isso que disse antes? Mas, como? O que nos fez perceber música? O que nos levou a querer domar o som, as notas musicais, a descobri-las?

Solitário, um homem das cavernas em determinado momento soprou o osso furado de uma provável refeição. Por que teria feito isso? Foi sem querer? Não importa. Ao ouvir o som, o fez de novo. E de novo. E de novo. Por que raios se interessou em fazer isso? Imagino que sua reação tenha sido de tamanha surpresa quanto o tetravô dele que descobriu como fazer fogo. Não nos damos conta de quão importante foi a descoberta musical. Me atrevo a colocar em pé de igualdade: aprender a musicar foi tão impactante para o desenvolvimento da humanidade quanto dominar o fogo. Se o fogo revolucionou nossas engenharias de sobrevivência, a música esteve na gênese e transformou por completo nossas interações sociais, afetivas e culturais. E, mais impressionante, continua a cumprir essa função!

Lá na minha estante há um livro muito especial, inspirador, que vasculha com mais profundidade estas questões. A Música do Homem, de Yehudi Menuhin e Curtis W. Davis. "De fato, a música É o homem. Enquanto a humanidade sobreviver, a música nos será essencial. Necessitamos da música tanto quanto necessitamos um do outro", escreveram.

Sinal das eras. O que havia antes do Big Bang? O que há depois do universo observável? De onde viemos? Por que estamos aqui? Por que a vida surgiu? Por que ouvimos música? Eis as questões.

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