A história da aparelhagem de som que embalou os Bailes da Saudade de Belém

Jornalista e fotógrafa documentou o percurso do Sonoro Diamante Negro, um dos equipamentos mais antigos da capital paraense

Sonoro Diamante Negro (Foto: Suely Nascimento)

Era a década de 1950, quando Sebastião Nascimento decidiu montar uma aparelhagem de som, no bairro Marambaia, em Belém. Composta inicialmente por um alto-falante, uma tuita e um projetor, o equipamento foi ganhando peças e ficando mais parrudo com o tempo, com itens como H-10, cornetão e microfone.

O Sonoro Diamante Negro, como ficou conhecido, embalava festas para o público da capital paraense. Entre os artistas que usaram a aparelhagem para se apresentar na cidade estão Jerry Adriani, Reginaldo Rossi e Beto Barbosa. Cinco décadas após a sua fundação, o equipamento passou a ser usado nos chamados Bailes da Saudade, que aconteciam nas sedes sociais de Belém para lembrar o grande estilo das festas de antigamente, regadas a bolero, choro e outros ritmos.

O criador do Sonoro Diamante Negro nasceu no município paraense de Capanema, no final da década de 1920. Anos depois, sua família transferiu-se para Belém e passaram a morar no bairro Marambaia. Como adorava música, ele colocava um gravador sobre a mesa de casa e fazia suas gravações musicais.

A noite era embalada por bolero e choro, além de outros ritmos. Entre as mais preferidas do público, estavam “Índia paraguaia”, “O vagabundo”, “Os anjos cantarão assim”...

Mas mal sabia Sebastião que, décadas depois, o seu feito ficaria conhecido em todo o país, por meio de um impressionante ensaio fotográfico, uma exposição audiovisual e um livro sobre a história do equipamento.

Detalhe do Sonoro (Foto: Suely Nascimento)O Moozyca foi conferir a exposição sobre o “Sonoro”, no Itaú Cultural, em São Paulo, e ficou impressionado com a alma da enorme aparelhagem de som. Então, não aguentamos e fomos entrevistar a responsável por documentar a história do equipamento, a fotógrafa e jornalista Suely Nascimento, filha do grande Sebastião.

O que era o Diamante Negro?

Foi uma aparelhagem de som, fundada pelo meu pai, Sebastião Nascimento, na década de 1950, no bairro Marambaia, em Belém. Ao invés da palavra aparelhagem, decidi utilizar 'sonoro', no título do projeto.

E qual é o propósito do projeto Sonoro Diamante Negro?

É um projeto de documentação fotográfica, iniciado em 1997, que preserva a história de uma das mais antigas aparelhagens de som do Pará. Quando comecei a fotografar a aparelhagem do meu pai, o intuito era reunir algumas imagens para o álbum da família. Então, passei a acompanhar o dia a dia do Diamante Negro, como a chegada da aparelhagem à sede social, sua montagem e, à noite, os Bailes da Saudade. Em sete anos, construí essa documentação. Com tantas imagens organizadas, pensei em fazer, então, o audiovisual Sonoro Diamante Negro, apresentando proposta para concorrer a uma das bolsas do antigo Instituto de Artes do Pará. Meses após a conclusão deste trabalho, meu pai vendeu a aparelhagem. Em 2010, foi editado o livro de fotografias Sonoro Diamante Negro, pelo programa Conexão Artes Visuais 2010, realizado pela Fundação Nacional de Artes e pelo Ministério da Cultura, com o patrocínio da Petrobras. Em 2014, a ação Percurso, do Centro Cultural Sesc Boulevard, de Belém, fez o lançamento da instalação Sonoro Diamante O toca discos (Foto: Suely Nascimento)Negro.

Como era a aparelhagem?

Na época de sua fundação, o Diamante Negro era composto por um alto-falante, uma tuita e um projetor. Assim, seu idealizador começou a colocar som em casamento, batizado e aniversário, e em festa dançante. Os discos eram de 78, 45 rotações. A mesa de som era um amplificador que dava grave, médio e agudo. Ele mesmo carregava esse equipamento num carrinho de praça, num carrinho de rua. Ao passar do tempo de seus 50 anos de existência, a aparelhagem foi crescendo e adquirindo outros equipamentos, como H-10, cornetão e microfone. Nos anos 2000, era conhecido como o sonoro mais antigo de Belém, em atividade. Sempre tendo o diferencial: a qualidade do som.

Qual era a força dos bailes da saudade a partir dos anos 1950?

Comecei a fazer a documentação fotográfica do Diamante Negro em 1997, quando meu pai só era contratado para tocar em Baile da Saudade. Ele enveredou pelo Baile da Saudade devido ao valioso acervo musical que foi organizando nas cinco décadas de criação do sonoro.

O baile ao som do Diamante Negro (Foto: Suely Nascimento)Onde eram os Bailes da Saudade, onde o Sonoro tocava?

A aparelhagem Diamante Negro executava músicas próprias de Baile da Saudade por todas as festas para as quais era contratada, independente do bairro da cidade de Belém.

Que tipo de música se tocava nesses bailes?

A noite era embalada por bolero e choro, além de outros ritmos. Entre as mais preferidas do público, estavam “Índia paraguaia” (Carlos Santorelli e Márcia Regina), interpretada por Marcos Roberto; “O vagabundo” (Alfredo Gil e Victor Simon), interpretada por Adriano S. Cruz; “Os anjos cantarão assim” (Waldemar Pimentel), interpretada por Reginaldo Rossi; e “Saxofone, por que choras?” (Severino Rangel de Carvalho, o Ratinho), interpretada por Carlos André.

 Verdade que o sonoro chegou a cobrir apresentações de grandes nomes da época?

Sim, é verdade. A aparelhagem fez a cobertura para muitos cantores conhecidos do grande público, como Jerry Adriani, Reginaldo Rossi e Beto Barbosa, quando vinham a Belém do Pará. Ele fazia cobertura para eles, que cantavam ao microfone com o som da aparelhagem funcionando.

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