Na comunidade de Moita Redonda, em Cascavel, semiárido cearense, jovens e crianças se uniram pela música para criar a o Grupo Uirapuru - Orquestra de Barro. Sua formação ocorreu em 2008, com o objetivo de valorizar a ancestral produção do barro, fomentando o conhecimento local.
O projeto consiste na produção de instrumentos musicais feitos de barro, tanto de corda - como violino, viola, violoncello, harpa e guitarra -, quanto de sopro (flautas, apitos e trombetas) e percussão. Atualmente, o grupo se apresenta com 12 integrantes, enquanto outros já estão em formação. “Ao todo, o projeto já teve mais de 100 participantes diretos”, conta Tércio Araripe, idealizador e diretor do grupo.
“O Grupo Uirapuru - Orquestra de Barro é fruto da pesquisa que venho fazendo com instrumentos musicais orgânicos há mais de 20 anos”, conta Araripe. O surgimento da orquestra veio com a seleção no “Prêmio Interações Estéticas”, da Funarte, em 2008. O projeto se propunha a criar uma ação conjunta do artista plástico e luthier com as "senhoras do barro" da comunidade de Moita Redonda.
“Nossa primeira apresentação foi na própria comunidade e, de lá pra cá, fomos selecionados em importantes editais nacionais que nos possibilitaram apresentações em diversos estados do país. Desde 2014, contamos também com uma parceria da prefeitura de Cascavel”, conta.
Patrimônio cultural
Pela relevância, o projeto foi reconhecido como iniciativa de excelência na 28ª edição do Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade, promovido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). A cerimônia de premiação será no dia 27 de outubro, em Brasília.
“A premiação do IPHAN pra nós foi uma das mais importantes que já ganhamos, pois vem como reconhecimento do nosso trabalho. Não só em nível de formação artística e sociocultural dos jovens participantes, mas também de uma ação que envolve toda uma comunidade, com o resgate de um patrimônio material e imaterial: a cerâmica de Cascavel, um dos ícones de referência da cultura cearense”, avalia Araripe.
Cultura da cerâmica
Moita Redonda é um polo de produção de cerâmica que tem reconhecimento em nível municipal, estadual e nacional. Para chegar lá é preciso saber o caminho, pois não há placas. Também não tem água encanada. A cerâmica feita no povoado não tem origem festiva ou religiosa - nasceu da sobrevivência de ter um pote para guardar água e uma panela para cozinhar.
A arte ancestral do barro se manifesta na região por meio de peças cozidas e pintadas com a antiga técnica do Toá, pigmento feito do próprio barro. A simbologia das pinturas representa desde folhas de cajueiro a ondas do mar, passando pelas antigas peças de madeira com as quais se transportavam as peças de barro em cima de burros. Ainda hoje, o trabalho com esse material é a fonte de renda das mais de 80 famílias de seus quase 900 habitantes.
