São três horas da tarde. No local marcado, um estúdio de tatuagem na periferia de São Paulo, encontramos o Manno G, rapper conhecido no extremo norte de São Paulo por defender a causa dos migrantes nordestinos que vem à capital paulista em busca de uma vida melhor. O rapper está trabalhando em seu primeiro álbum, “Universo Confuso”, que deve ser lançado no primeiro semestre do ano que vem. E nós, do Moozyca, curiosos como sempre, perguntamos qual será seu tema principal. “O disco fala muito sobre as dificuldades de quem vem do nordeste atrás de um vida melhor em São Paulo. Quero falar sobre o preconceito que senti na pele”, diz Manno G.
“Às vezes me perguntam pq eu vim pra são Paulo. Eu não vim pra São Paulo, fui trazido pela minhã mãe aos sete anos de idade. Não foi escolha.
Os arranjos do álbum ficarão por conta do músico Juarez – que participou da formação inicial da banda Bica1702, que lançou o rapper Manno G. “O Juarez é meu parceiro, está comigo há muitos anos na caminhada. Ele é o cara dos arranjos, confio nele para isso”, afirma. Mas antes do lançamento do álbum, em outubro, Manno G irá apresentar uma nova música ao público, com videoclipe que será lançado em primeira mão pelo Moozyca. Dois meses depois, em novembro, outra faixa deve ser apresentada. Até agora, duas músicas do primeiro CD do rapper já foram divulgadas: “Quando eu cheguei por aqui” e “Respeite o Nordestino”, feita em parceira com o cearense Mano Ála.
E ano que vem, além do disco, um documentário com a direção do Vrass77 sobre a saga dos nordestinos na busca por uma vida melhor em São Paulo será lançado, em paralelo ao álbum. “O documentário é um complemento do CD. Além da minha história, vamos falar sobre três personagens. Já estamos gravando e ansiosos para ver o trabalho pronto”, aponta G.
Clipe de “Quando eu cheguei por aqui” – música produzida pela DJ W.Jay, do SNJ,que fará parte do primeiro álbum. Videoclipe tem direção do Vrass77, se liga:
Quando eu cheguei por aqui
“Às vezes me perguntam pq eu vim pra são Paulo. Eu não vim pra São Paulo, fui trazido pela minhã mãe aos sete anos de idade. Não foi escolha. Meu pai morreu e minha mãe teve que se virar pra sustentar eu e meus irmãos. Aqui, cuidei dos meus irmãos mais novos – com a ajuda do meu irmão gêmeo. Depois que meu pai faleceu minhã mãe trouxe a gente pra cá (São Paulo) e, como precisava sustentar os seis filhos, trabalhou como faxineira em dois empregos”, conta Manno G.
Segundo o rapper, ele e o irmão iam pra feira no fim do dia, escondidos da nossa mãe, catar as sobras de comida que complementavam a alimentação da família. Naquela época, perceber o preconceito e as condições a que os nordestinos estavam submetidos em São Paulo o marcaram profundamente. “Muita gente falava sobre minha mãe, sabe? Coisas como: ‘essa mulher deve ter um filho de cada pai...’ ‘Cadê o marido dela’ e outros absurdos. Esse preconceito me marcou muito. Por isso comecei a fazer rap, pra tentar mudar essa situação”.
E o que você curte ouvir na real?
“O que eu escuto mesmo é Reginaldo Rossi, Amado Batista, música brega em geral (risos)... É verdade... Gosto também de música caipira, sertaneja de raiz... Escuto muito Pena Branca e Xavantinho, por exemplo”, afirma o rapper. Ao ouvir isso fizemos a óbvia pergunta: então como o rap entrou na sua vida, meu amigo? “Na verdade o rap entrou na minha vida por acaso. Sempre gostei de música, mas só me interessei pelo rap quando vi no ritmo uma forma de protestar e tentar mudar a realidade ao meu redor”.
Esse Manno G é uma figura mesmo, amigos. Por agora, ficamos por aqui. Mas assim que o disco dele for lançado, falaremos pra vocês em primeira mão, pode deixar.
Pra fechar, vamos de "Respeite o Nordestino" - gravado em parceria com o rapper cearense Mano Ála e produzido pela Esquina da Gentil Produções: