Morre Ornette Coleman, o Einstein do jazz norte-americano

Jazzman revolucionou a história da música com a teoria harmolódica

“The Shape of Jazz To Come” acabou se revelando como profético para a história da músicaO saxofonista e compositor Ornette Coleman faleceu na manhã de hoje por causa de uma parada cardíaca, segundo informou a família do músico ao New York Times. Ele tinha 85 anos e morava em Manhattan, segundo o jornal norte-americano. Em 2007, ele ganhou o Prêmio Pulitzer por seu álbum "Sound Grammar".

O Moozyca expressa os mais sinceros sentimentos pela perda do grande jazzman, que revolucionou, não apenas o estilo musical ao qual se debruçou, mas também o curso da música em todo o mundo.

Em 1959, com apenas 29 anos, lançou “The Shape of Jazz To Come”, que, para alguns, pareceu um título prepotente, mas que acabou se revelando como profético para a história da música.

É dele o álbum “Free Jazz", de 1960, que deu origem ao estilo musical bastante praticado até os dias de hoje. Neste último álbum, apresentou-se com um quarteto duplo incluindo Don Cherry e Freddie Hubbard, no trompete, Eric Dolphy, no clarinete baixo, Charlie Haden e Scott LaFaro, no contrabaixo, e Billy Higgins ou Ed Blackwell, na bateria.

O disco foi gravado em estéreo com cada um dos quartetos tocando isolado em cada um dos canais, o que permitia produzir passagens de improvisação coletiva de todos os oito músicos. A faixa “Free Jazz” tinha quase 40 minutos, sendo a mais longa gravada até a data e tornou-se, instantaneamente, um dos discos mais comentados de Ornette Coleman.

 

Quebra da hierarquia

No final dos anos 1950 e início de 1960, o jazz tornava-se menos rígido em relação às regras da harmonia e do ritmo e ganhava mais distância do repertório cancioneiro e tradicional norte-americano.

Nesse contexto, Coleman realiza os seus primeiros trabalhos – uma espécie de resposta pessoal ao seu companheiro saxofonista Charlie Parker – que tiveram uma receptividade boa por parte dos músicos de jazz. Porém, com o passar do tempo, a sua genialidade como filósofo, compositor e instrumentista subverte o andamento da execução do jazz, com ideias sobre instrumentação, processos e conhecimentos técnicos.

Uma das criações de Coleman foi o conceito de “harmolodic” (ou harmolódico), que, segundo ele próprio, é "o uso da física e mental da própria lógica feita numa expressão de som para provocar a sensação musical de uníssono executado por uma única pessoa, ou com um grupo". Isso significa que "a harmonia, melodia, velocidade, ritmo, tempo e frases, todos têm igual posição nos resultados que vêm da colocação e espaçamento de idéias".

Falando de forma resumida, o processo criativo “harmolódico” rompe as barreiras hierárquicas da música. Antes, as partituras eram compostas para que os músicos executassem os standards e pudessem realizar improvisações sobre a harmonia central da música. Isso quer dizer que todos seguiam, mais ou menos, o que estava anotado nas partituras, fazendo seus solos em momentos “permitidos”.

Com o novo conceito de Coleman, os músicos improvisam juntos a todo o tempo, dando origem ao que ele chama “improvisação composicional”. Assim, cada música é composta ao vivo, em cima de um palco, numa casa de shows, num bar, teatro ou em casa. A teoria de Coleman não é apenas musical, mas filosófica, indo ao encontro dos “happenings”, que eram as performances artísticas que ganharam força nos anos 1960, como manifestações espontâneas e inimitáveis.

História do gênio

Nascido em 9 de março de 1930, em Fort Worth, Texas, num período de grande segregação, perdeu o pai quando tinha apenas sete anos. A sua mãe, costureira de profissão, trabalhou muito para poder comprar o seu primeiro saxofone, quando tinha 14 anos de idade. Tendo aprendido a tocar de ouvido, a partir de um livro prático de piano, Coleman ficou à vontade com o instrumento e começou a tocar com bandas locais de rhythm & blues.

Pela sua visão fundamental e inovação, Coleman foi alvo de tributos que incluem a admissão na Academia Americana das Artes e das Letras, o doutoramento honoris causa pela Universidade da Pensilvânia, a Letter of Distinction do American Music Center e o Prêmio das Artes do Governador do Estado de Nova Iorque. No entanto, nem tudo na vida de Coleman foi sopa.

Inscreva-se no Moozyca

Leia também
A morte do tom: de Schoenberg a David Bowie

A morte do tom: de Schoenberg a David Bowie

Ornithology: obra prima de Charlie Parker completa 70 anos

Ornithology: obra prima de Charlie Parker completa 70 anos

Spotify volta no tempo para revelar as músicas mais ouvidas das últimas décadas

Spotify volta no tempo para revelar as músicas mais ouvidas das últimas décadas

Há exatos 50 anos os Rolling Stones lançavam o clássico Out Of Our Heads

Há exatos 50 anos os Rolling Stones lançavam o clássico Out Of Our Heads

Veja 6 atrações do Bourbon Street Fest para já ir aquecendo os motores

Veja 6 atrações do Bourbon Street Fest para já ir aquecendo os motores

Alemães do Raggabund trazem seu som multicultural para a América do Sul

Alemães do Raggabund trazem seu som multicultural para a América do Sul

Americano posta mais de 1000 horas de gênios do Jazz ao vivo para download

Americano posta mais de 1000 horas de gênios do Jazz ao vivo para download

Por que nos EUA não tem batucada?

Por que nos EUA não tem batucada?

Sesc Interlagos terá apresentações de Blues gratuitas em julho

Sesc Interlagos terá apresentações de Blues gratuitas em julho

Conheça os cinquentenários ‘reiseiros’ do povoado de Castanhão, na Bahia

Conheça os cinquentenários ‘reiseiros’ do povoado de Castanhão, na Bahia

"A ditadura não atrapalhava o reggae, pelo menos para mim", conta Jai Mahal

"A ditadura não atrapalhava o reggae, pelo menos para mim", conta Jai Mahal

Resenha Zyca: The Aeroplane Flies High reúne lados B do Smashing Pumpkins

Resenha Zyca: The Aeroplane Flies High reúne lados B do Smashing Pumpkins

Inscreva-se no Moozyca

Banner Moozyca