As aftas ardem, o rap gangster alemão idem

Os alemães Farid, Fler e Sila fazem um rap bobão e machista

Rapper gangster alemão Farid Bang (Foto: Divulgação)Pensa num cara bobão. Esse é Farid Bang. Alemão de Düsseldorf com raízes marroquinas, Farid al-Abdalawi é um dos rappers gangsters mais conhecidos da Alemanha. Suas performances audiovisuais contribuem para o fato de que mais de um milhão de fãs, inclusive crianças e adolescentes, convivam com a violência e a glorificação do luxo, da misoginia e da homofobia. O rap gângster alemão arde a alma, não dói!

Saca só o nível da letra: “Sim, você é um gângster-borboleta / Eu uso cocaína, bebendo cerveja / em uma SL, com a vida de uma estrela de rap (...) Eu como as putas de Miami, de shoppings e Los Angeles / No Benz com Rihanna, Ciara gangbang / Eu tenho mais dinheiro do que Juelz Santana / Ando com armas por aí, jovem, brutal, e boa pinta / E você pergunta: o Banger hoje está completamente louco?”

Essa música se chama Killa e dá o nome ao seu quinto álbum, que saiu no primeiro semestre de 2014. O álbum foi gravado pela sua própria gravadora, que se chama Banger, e é um grande sucesso na Alemanha. Se você gostou da primeira parte da música, toma a segunda, então:

“Não mudou nada, eu ainda transo com mães (...) Eu trago traficante e puta, e hoje levo Micaela / Então ela sabe o que é um banger, especialmente que ele fode mais / Hoje eu fodo putas em biquínis, com carteiras cheias de Billy Boys / Eu vou de Lamborghini - correndo! / E eu estou dando um rolê com Alice / E você pergunta: o Banger hoje é completamente louco?”

Não é apenas essa música uma bobagem completa, mas todas as outras sofrem de uma enorme falta de criatividade e acabam caindo nos mesmos versos sobre “eu fodo todo mundo”, blá blá blá... E não é apenas Farid Bang o disseminador dessas ideias, mas há toda uma patota de “artistas” do ódio e do preconceito espalhada pelo país. O pior é que os caras ficam se alfinetando nas redes sociais, soltando richinhas, polemicazinhas, mas, no fim, são a réplica mal forjada de uma matriz mal projetada.

Os rappers Fler e Silla, que lançaram juntos o álbum “Südberlin Masculin II” (Sul de Berlim Masculino II) são outros exemplos do péssimo rap gângster alemão. Embora o nome do álbum seja ruim, as letras das músicas são ainda mais desoladoras. O álbum é musicalmente mais forte, difere do anterior, “Südberlin Masculin”. Sim, o nome terrível é uma série e, em breve, deverá ser lançado um álbum “Sul de Berlim Masculino III, depois IV”, e assim por diante.

Daí eu te pergunto: quem essa geração de rappers, como Farid Bang, Fler ou Silla, representa? Certamente, não representa a mentalidade alemã, mas uma pequena parcela de “babacas pega ninguém”. Boa parte da galera que curte o som é chamada de “asi”, que é uma abreviação de asozial, ou anti-social, em português. Muitos deles se escondem da sociedade, assistindo televisão e comendo comida congelada. Fazem festas cheias de cuecas e um playstation no meio da roda, cada um com uma cerveja de garrafa de plástico na mão.

São frustrados, querem as prostitutas de luxo, mas vão dormir sozinhos numa cama mal limpa. Suas letras retratam pensamentos preconceituosos. Tratam a mulher como lixo, falam mal de estrangeiros (apesar de serem muitos deles descendentes de estrangeiros), pregam a violência, a homofobia, a desgraça.

Vão na contramão da sociedade alemã, que derrubou o machismo há muito tempo. Se você entrar na maioria das casas na Alemanha, vai ver um cara lavando a louça, cozinhando, tirando o lixo, tudo com a maior naturalidade. São criados para ser homens (mas não “macho”) e fazer as mesmas tarefas das mulheres. Nas casas que frequentei, todos os homens urinavam sentados, para que depois as mulheres pudessem se sentar no mesmo vaso sem se preocupar com os respingos de mijo. Consciência monstra!

Para concluir, nem de longe, Farid Bang, Fler ou Silla representam o rap alemão, que, diga-se de passagem, é foda!

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