Nath Calan une som e teatro em espetáculo de música cênica

Peças são interpretações de Bertolt Brecht, Nelson Rodrigues e outros artistas

Nath Calan: som e movimentos corporaisA sala silenciou quase totalmente, não fosse o barulho da chuva no telhado – e todos se concentraram no corpo de uma mulher que chegava à frente da plateia. O calor era intenso, o que fazia com que os olhares ficassem ainda mais curiosos e aquecidos. Repentinamente, ela começa a criar uma melodia ritmada pelas mão, sem emitir som algum. Os braços subiam e desciam e pude ouvir (sem ouvir) a frequência de cada nota como se fosse uma anotação em uma partitura imaginária. Pensei: “devo estar surdo”, mas logo fui atraído pelo roçar da chuva no telhado e abandonei a ideia. De repente, uma palma ecoou forte, era o início do show com "Silence must be", de Thierry De Mey.

A mulher na frente da sala era Nath Calan, em apresentação na Casa do Núcleo, na Zona Oeste de São Paulo, nesta terça-feira (15/12). O show que ela faria seria de música cênica. “Além de som, uso gestos e movimentos corporais”, explicou Nath. O show contaria com instrumentos de percussão, ao mesmo tempo em que a musicista atuaria, trazendo personagens para o palco com reflexões sobre sociedade, família, angústia, solidão - tudo com forte apelo psicológico.

Em "Toucher", uma composição de Vinko Globokar, em adaptação à obra de Bertolt Brecht, Nath interpretou um pequeno drama usando apenas 13 fonemas, representados por sons de percussão. A trama entoada na voz de Nath Calan traz a saga de Galileu em seus questionamentos sobre o universo - em um confronto intenso com o personagem Segredo, que, ao final, pergunta: “Onde está Deus no cosmo?”. A resposta de Galileu vem emitida em forma sincopa: “Dentro de nós, em nenhum outro lugar”.

Já em "Corporel", outra composição de Vinko Globokar, a solista trouxe uma exploração da voz, sussurros, sopros e de sons do corpo externo, por meio de tapas e estalos, tudo sincronizado por gestos e movimentos corporais. Outra atração bastante aplaudida foi o fragmento de alguns minutos da peça "Waltz", que no total dura uma hora. A montagem é baseada no texto de Nelson Rodrigues, com direção de Bira Honorato, para a “Valsa Nº6”. No monólogo, Nath demonstra uma ótima performance ao vibrafone, tocando e interpretando uma personagem tomada por sentimentos cruzados, como medo, ciúme, amor, desejo, raiva, etc.

"Musique de Table", de Thierry de Mey, foi a última atuação de Nath Calan. Na peça, contou com participação de Paulo Zorzetto e Fernando Reis – os três músicos formam o Trio DizTrês.

Percussão de peso

Nath Calan é bacharel em música, com habilitação em percussão pela Universidade do Estado de São Paulo (Unesp). Ela é ex-integrante do Grupo PIAP, realizando concertos pelo Brasil e gravações para TV e Rádio. Nath é musicista convidada com frequência por diversas orquestras, como Osusp, Jazz Sinfônica, Orquestra Sinfônica de Santo André, Orquestra da UNITAU (Taubaté), Sinfônica de Rio Claro, Orquestra Sinfônica de Santos e Orquestra Filarmônica Bachiana.

Como camerísta atuou como convidada pelo Percorso Ensemble e Grupo Durum Percussão Brasil, realizando concertos no Brasil e no exterior. Participou de importantes festivais de música e encontros de percussão pelo país, gravando o CD Orquestra Acadêmica do Festival de Campos do Jordão, sob regência Roberto Minczuk. Também foi por um ano professora no Projeto Guri Santa Marcelina.

Confira a seguir Sonhos (2007), de Artur Rinaldi, para percussionista solo:

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