É difícil pensar a cultura e a música popular do Brasil sem a presença do acordeão. Sanfona, gaita, concertina, harmônica - os nomes dados a esse instrumento são tão diferenciados quanto a própria maneira como ele se insere na tradição musical brasileira.
Em um inusitado espetáculo especialmente preparado para a série Encontros Instrumentais, do SESC Pompeia, os músicos Renato Borghetti, Toninho Ferragutti e Mestrinho vão apresentar um panorama do acordeão no Brasil de hoje, em 30 e 31 de janeiro. O show, que tem produção artística e executiva da Borandá e teve repertório elaborado para essa ocasião, vai mostrar a intimidade desenvolvida entre o acordeão e instrumentos como violão e percussão, em ritmos como frevo, maracatu, baião, polca, rancheiras, xotes, chamamés e choros, sempre atuais e vigorosos na música popular brasileira, inclusive a instrumental.
Raízes no Brasil
O primeiro acordeão que chegou ao Brasil, pela região Sul do país, chamava-se concertina (acordeão cromático de botão, com 120 baixos), e o instrumento tornou-se popular principalmente nas regiões Sul, Centro-Oeste e Nordeste. Com o passar dos anos e o desenvolvimento de uma tradição musical propriamente brasileira, o acordeão passou a integrá-la de forma natural.
Os primeiros gêneros musicais que aqui chegaram com o acordeão - fado, valsa, polca, bugiu e caijun, entre outros - retratavam o folclore dos imigrantes portugueses, alemães, italianos, franceses e espanhóis que aqui chegaram em grande número nos primeiros anos do século 20 e se estabeleceram na região Sul. Já no Nordeste, onde o acordeão é conhecido como sanfona, o instrumento chegou com a construção da malha ferroviária pelos ingleses, também no começo do século 20 - e ali surgiu um novo ritmo: o forró, tão característico do Nordeste e que tem no acordeão um de seus principais elementos.
Os músicos
Renato Borghetti é talvez o músico que mais vem divulgando e universalizando a música do Sul do Brasil, e tornou-se um de nossos maiores sucessos da música instrumental. Músico virtuoso em sua gaita-ponto, ele mostra toda a intimidade deste instrumento com a mão direita do violão em xotes, mazurcas, vanerões, chamamés e tantos outros ritmos característicos da música gaúcha.
Toninho Ferragutti nasceu na região Sudeste e vive na capital paulista há muitos anos. Sendo o maior centro urbano da América do Sul, com mais de 20 milhões de habitantes, todo o Brasil está presente em São Paulo. O acordeão, aqui, encontra-se permanentemente incorporado por trios de forró (migrantes do Nordeste), grupos de músicas caipira e sertaneja, formações regionais de choro e de música típica italiana, sendo também largamente utilizado em festas ciganas. Pelas mãos de Ferragutti, o instrumento vem ocupando espaço cada vez maior também em salas de concerto, sendo utilizado por orquestras sinfônicas e outras formações.
Mestrinho é sergipano nascido em Itabaiana e tem a sanfona no próprio sangue. Neto do tocador de oito baixos Manezinho do Carira, e filho do sanfoneiro Erivaldo de Carira, é um dos principais herdeiros dos mestres nordestinos do acordeão, e vem sendo largamente reconhecido por seu talento em misturar forró e xote com pitadas de jazz e bossa nova.