É difícil quem passe por um show da Orquestra Brasileira de Música Jamaicana sem descolar os pés do chão. Apelidada de OBMJ, a banda mistura música jamaicana de raiz (ska, rocksteady e early reggae) com temas da música brasileira.
No momento, a banda divulga o “O Baile Continua – Volume II”, o segundo álbum de uma trilogia, que deve ser concluída com a gravação de dois EPs, ainda sem previsão de lançamento. Para ouvir o novo álbum da banda na Rádio Zyca, clique aqui.
"Pensamos em tudo para resultar num show dançante, com punch. Acredito que a atitude no palco é bem rock and roll. Brinco até que os nossos metais são como guitarristas de uma banda de rock".
No repertório estão pedradas de Tim Maia, Jorge Bem e Luiz Gonzaga. Entre algumas das faixas está uma versão de “Brejeiro”, que foi o primeiro tango brasileiro de Ernesto Nazareth, publicado em 1893 por Fontes & Cia. Outros destaques são “Deixa A Gira Girá”, de Os Tincoãs, e “Meu Limão, Meu Limoeiro”, de Wilson Simonal.
Para falar mais sobre a orquestra e o novo álbum, o Moozyca entrevistou o idealizador da OBMJ, o produtor Sergio Soffiatti, que formou a banda junto ao trompetista Felippe Pipeta, em 2008. Veja abaixo a entrevista completa.
Moozyca: No último álbum (O Baile Continua), vocês trouxeram temas de frevo, samba rock, chorinho, mambo, samba, forró, música baiana, etc. O que vocês ainda gostariam de trazer para banda em termos de influências brasileiras e mundiais?
Sergio Soffiatti: Continuamos na pesquisa da música brasileira para encontrar canções que funcionam nos ritmos jamaicanos. Muitas descobertas foram feitas e colocadas nos discos. Agora, estamos focando, além das versões, nas composições próprias. O terceiro disco será dividido em dois EP's, um de versões e um de composições. Mas não vamos deixar de lado a pesquisa e sempre que acharmos algo que se encaixe na nossa proposta, iremos usar. Nosso foco maior é o baile, músicas dançantes que animem o povo.
Por um lado, vocês resgatam a música jamaicana tradicional, por outro, pérolas regionais brasileiras, como “Deixa A Gira Girá”, de Os Tincoãs. Como ocorre a formação do repertório?
O repertório vem das músicas que conseguimos fazer boas versões em Ska, Reggae ou Rocksteady. Faço estudos dos grooves (baixo e bateria) e se consigo encaixar a música no ritmo, entra no repertorio. O nosso primeiro disco trouxe músicas que estavam no nosso inconsciente, foi fácil de fechar o repertório. Já no segundo, tivemos que nos aprofundar na pesquisa e acabamos conhecendo os Tincoãs, por exemplo. A melodia linda dos vocais foi passada para os arranjos de sopro, em cima de uma base bem pesada de ska.
Dá pra ver no show de vocês que a galera curte muito os metais. E piram nas improvisações. Vocês arranjam as músicas pensando em dar um punch nos shows?
Sim, pensamos em tudo para resultar num show dançante, com punch. Acredito que a atitude no palco é bem rock and roll. Brinco até que os nossos metais são como guitarristas de uma banda de rock.
Vocês começaram com um EP, em 2008, o Skabrazooka, mas já existia o projeto em 2005, certo? Como foi a ideia de mesclar a genética da música jamaicana com a brasileira?
Eu e o Pipeta queríamos montar uma big band de ska, essa era a primeira ideia. Descobrimos versões de músicas brasileiras de algumas bandas de ska do Japão, Europa e Estados Unidos. Pensamos: por que não fazemos um repertorio dedicado à nossa música, que é vasta e linda? Isso foi em 2005. Passamos três anos arranjando e testando o repertório. Foi então que decidimos que era hora de montar a banda e ir para a estrada.
Por que o show do OBMJ é tão empolgante? O fato de serem releituras ajuda o público a entrar na música?
Ajuda sim. Mas acredito que a junção da música brasileira com os ritmos jamaicanos seja a receita para essa empolgação.
A música brasileira tem muito a ver com a jamaicana, por conta dos ritmos e síncopes parecidos?
Sim, muito. O nosso baião, por exemplo, tem uma similaridade muito grande com o ska, o reggae com o forró. A raiz é a mesma: a música africana. Mas a música brasileira ainda é mais melódica, enquanto a jamaicana mais percussiva. Isso faz com que a gente simplifique ao máximo nas harmonias para a música ficar mais jamaicana.
Vocês tocaram com o skatalites. Como foi a experiência de dividir o palco com os precursores do ska no mundo?
Tocamos com o skatalites em 2008, foi nosso primeiro show e já começamos abrindo um show da banda que mais nos influencia. Eles assistiram o show e curtiram, vieram falar com a gente depois, demonstrando carinho e respeito. O aprendizado nunca termina.
Pensando na questão comercial, como é viver de música independente e, em boa parte, instrumental?
Em termos profissionais, não vivemos exclusivamente da OBMJ. Ela é mais um dos trabalhos que fazemos como músicos. O meu envolvimento e o do Pipeta é maior, porque dirigimos a banda e realizamos um sonho com ela, o de ter uma big band de ska, reggae, rocksteady. Sou produtor musical e trabalho gravando discos também. Todo mundo da banda tem outros trabalhos e assim tocamos a vida tentando viver dignamente através da música.
O que é a Jamaica para vocês?
Uma pequena ilha no caribe que ficou famosa mundialmente pela força de sua música.