50 anos do incrível "Coisas", o mais belo álbum do maestro Moacir Santos

Em 1965, o músico lançou seu primeiro álbum, carregado de jazz e influências africanas

Não há dúvida que aqui falamos de um gênio que, infelizmente, é pouco lembrado.

No ano de 1965, em meio a um mundo em reboliço, um dos mais vistuosos artistas da música brasileira, Moacir Santos, lançou seu álbum de estreia, o belíssimo "Coisas". O álbum, lançado pelo selo Forma e produzido por Roberto Quartin, conta com dez faixas e, acreditem: todas se chamam "coisa". Sim, isso mesmo. Tem a "Coisa nº1", "Coisa nº2"... E assim por diante. Mas não, não é só isso! Por mais entranho que possa parecer elas não estão em ordem númerica; o disco começa com a elegante Coisa nº4 e se encerra com a charmosa Coisa nº8. O álbum tem melodias polidas, hermeticamente timbradas, e uma particular harmonia, que lhe rendeu merecidos elogios e reconhecimentos.

Coisa nº4

O jazz e as influências africanas são muito fortes em todo o disco. As teclas do piano, os instrumentos de sopro e a percussão apoiam essa personalidade singular do "Coisas" e colorem este belo quadro que Moacir pintou. Não é um disco uniforme, na verdade, muda de clima em diversos momentos. Algumas faixas, como Coisa nº10, nos transportam para um salão de festas sofisticado e gracioso. No entanto, outras, como Coisa nº5 (que por sinal vem logo depois da Coisa nº10), são repletas de tensões, dissipadas ao longo da música, com fineza e excelência.

Coisa nº10

Coisa nº5

Pra quem não sabe, Moacir Santos é natural de São João do Belmonte, interior de Pernambuco. Ainda criança mudou-se para Flores, cidade que fica no Sertão do Pajeú. Lá, aos 14 anos, conseguiu entrar em uma banda, aprendendo a tocar clarinete, trompete, saxofone, entre outros instrumentos. Mais tarde, rodou o Nordeste do país para saciar seu apetite pelo conhecimento musical. Moacir teve aulas com o maestro Guerra-Peixe e com o notável compositor alemão Hans Joachim Koellreutter. Na década de 1960, ganhou fama por dar aulas a nomes como Baden Powell, Paulo Moura, Roberto Menescal, Nara Leão, entre outros.

Não há dúvida que aqui falamos de um gênio que, infelizmente, é pouco lembrado. Por isso devemos saudar homenagens, como o caprichoso disco duplo “Ouro Negro”, produzido por Mario Adnet e Zé Nogueira. Lançado em 2001, o álbum reuniu artistas para reporduzir os arranjos originais de obras de Moacir e contou com as participações de Milton Nascimento, Ed Motta, João Bosco e Gilberto Gil.

Já ouviram Samba da Bênção, de Vinicius de Moraes e Baden Powell? Lá tem outra linda homenagem a esse brasileiro ímpar. Em um dos versos, o poeta diz: 

A bênção, amigo
A bênção, maestro Moacir Santos
Não és um só, és tantos como
O meu Brasil de todos os santos
Inclusive meu São Sebastião
Saravá! A bênção, que eu vou partir

Vamos fechar com ela?

Samba da Bênção

 

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