História política do Brasil é contada por meio da música

Trilogia do jornalista Franklin Martins vai de 1902 a 2002; músicas de épocas estão disponíveis online

O jornalista Franklin Martins acaba de lançar o último volume do livro “Quem foi que inventou o Brasil?”, que resgata a história política do país por meio dos mais variados estilos musicais. Em três volumes, a obra abrange o momento histórico que vai de 1902 a 2002 e reúne mais de mil canções, que fazem menção a figuras históricas e momentos políticos e artísticos.

O legal é que as canções podem ser acessadas no site quemfoiqueinventouobrasil.com e o internauta pode ouvir na íntegra as gravações de domínio público, músicas de campanhas políticas e fonogramas que os detentores dos direitos autorais autorizaram sua reprodução. No caso das demais canções, o ouvinte/leitor tem acesso a um pequeno trecho.

A navegação é simples e pode ser feita de duas maneiras: a primeira segue a estrutura do livro - por volumes e capítulos, que trazem as canções que correspondem a seus verbetes); e a segunda por meio de busca livre.

O título do livro, “Quem foi que inventou o Brasil?”, faz referência a uma marchinha de Lamartine Babo. Na música, a resposta a essa pergunta se refere às origens do povo brasileiro – os portugueses, os indígenas e os africanos. Franklin afirma que essa capacidade de documentar fatos históricos por meio das músicas é algo que diferencia a produção brasileira, que é constante, permanente. “Geralmente nos outros países essa relação é intensa nos momentos de grandes conflitos políticos, de guerras, traumas sociais. Superado aquele momento, a produção de música sobre política cai, porque um dos dois lados vence e reprime o outro”, destacou Franklin à TV Brasil.

“A música brasileira faz a crônica da vida política nacional. Não há fato relevante que não tenha sido objeto de uma ou mais músicas compostas no calor dos acontecimentos”, disse Franklin durante o programa Espaço Público, da TV Brasil.

Bronca social: o grito da periferia 

No livro, o escritor relata uma mudança muito significativa, ao longo dos anos, nos gêneros musicais que falam de política no Brasil. No fim dos anos 70, o rock aparece com muita força e se mantém até início dos anos 90, quando o rap, o funk, o samba-rap e o reggae passam a predominar como gêneros que abordam política. Esses últimos trazem o que Franklin chama de bronca social, ou seja, as reivindicações da periferia.

“Eu não tinha ideia da intensidade do preconceito, da bronca social existente na sociedade contra a injustiça, a opressão, a falta de oportunidade, o racismo, a opressão policial dirigida contra o preto, o pobre e a prostituta”, afirmou.

Franklin Martins é jornalista e foi durante muitos anos comentarista político da imprensa brasileira. Durante a ditadura militar, foi dirigente do movimento estudantil brasileiro em 1968. Participou ativamente da luta pela redemocratização do país, vivendo cinco anos e meio na clandestinidade e cinco anos e meio no exílio. Durante esse período, editou vários jornais e revistas da resistência dentro e fora do país. É diplomado pela Escola Superior de Altos Estudos em Ciências Sociais da Universidade de Paris (1977).

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