Só a vaia consagra

Jards Macalé conta como foi ser vaiado no Festival Internacional da Canção, em 1969. Ele gostou!

Por

 “A gente queria fazer coisas diferentes e acabava que só a gente entendia o estava fazendo. Isso quando nós entendíamos alguma coisa”, conta Jards Macalé

Em algum momento de sua vida, Nelson Rodrigues disse: “só a vaia consagra”. Na verdade, não tenho certeza se isso realmente foi dito, mas confio nas palavras de Jards Macalé, que completa 70 anos com uma lucidez incrível. Vindo do mesmo Rio de Janeiro que Nelson Rodrigues, Jards pode ter ouvido essa frase incrível em algum botequim do centro da cidade, ou em alguma celebração na Estácio, ou mesmo em alguma ligação que fez ao dramaturgo em uma noite de inspiração. Nunca saberemos.

Jards foi vaiado no Festival Internacional da Canção, em 1969, ao cantar Gothan CityMas o fato é que só a vaia consagra, certo? Mas por quê?

A questão foi explicada por Jards Macalé no show que fez recentemente em São Paulo, no Sesc Pinheiros. Parece que, no início de sua carreira, o músico buscava um experimentalismo intenso e, muitas vezes, acabava se embananado com o resultado das suas pouco convencionais composições. “A gente queria fazer coisas diferentes e acabava que só a gente entendia o estava fazendo. Isso quando nós entendíamos alguma coisa”, conta Macalé.

Em certo show que realizou no Festival Internacional da Canção, em 1969, Jards Macalé resolveu cantar uma canção chamada Gothan City. A música começava da seguinte maneira: “Aos 15 anos eu nasci em Gothan City / E era um céu alaranjado em Gothan City / Caçavam bruxas nos telhados de Gothan City / No dia da Independência Nacional / Cuidado! Há um morcego na porta pricipal / Cuidado! Há um abismo na porta principal”.

Segundo Jards, a obra prima da música contemporânea não fez muito sucesso e o público não perdoou. “Eu Olhava para frente e todo mundo da plateia gritava uhhhh [putos da vida]. Olhava para trás e a polícia gritava ahhhh [bastante deleitosos]”, conta Jards.

Depois de tomar essa vaia homérica, Jards acordou famoso. Não conhecido pela nação brasileira, como Roberto Carlos e o Tremendão, mas começou a ganhar um público cada vez mais cativo. Talvez porque tenha um pouco de Nietzsche nesse Jards – homem que gosta de desconstruir, romper valores tradicionais e debochar da “vida como ela é”, citando o mesmo Nelson Rodrigues do início do texto. No livro “A Gaia Ciência”, Nietzsche afirma que o futuro do ser humano é rir da ciência que ele cria. Para Jards, rir da própria música já faz parte do seu show.

E foi com vaias que Jards conseguiu incendiar o Teatro Sesc Paulo Autran, em Pinheiros. “Eu vou tocar essa música pra vocês, mas queria fazer um pedido: por favor, gostaria que me vaiassem no final. Eu ando com uma saudade danada daquela vaia”, pediu encarecidamente Macalé, com o seu característico sorrisinho de canto de boca.

 

Inscreva-se no Moozyca

Leia também
Notice: Array to string conversion in /home/u377719025/domains/moozyca.com/public_html/pages/artigo.php on line 95

Notice: Array to string conversion in /home/u377719025/domains/moozyca.com/public_html/pages/artigo.php on line 98

Festival de Clipes e Bandas abre inscrições

Dica do Réu: Jimmy Cliff In Brazil

Lee Ranaldo, ex-Sonic Youth, é atração do Mês da Cultura Independente

"A ditadura não atrapalhava o reggae, pelo menos para mim", conta Jai Mahal

Festival de jazz leva grandes nomes a Águas de São Pedro

“Nunca parei, eu saí de cena”, conta Di Melo

Biografia do cantor Geraldo Vandré narra a trajetória de um mito da música

"Artista tem que dar murro em ponta de faca até aprender"


Inscreva-se no Moozyca