Primeiro single do álbum de estreia do multifacetado projeto do músico Craca Beat com a MC Dani Nega, “Sou Preto Mesmo”, é um verdadeiro manifesto político-poético. A música de trabalho da dupla apresenta elementos étnicos, batidas sintetizadas e os versos da MC para aqueles que não temem uma “preta muito poderosa”.
A faixa foi a escolhida para divulgar o álbum inédito Craca, Dani Nega e o Dispositivo Tralha (2016), com lançamento previsto para julho. Ela é a porta de entrada para o oceano artístico dos universos desses dois artistas.
Dani traz com sua voz suave um discurso ácido, abordando a apropriação cultural afro-brasileira de forma reflexiva: “Usa turbante, cola nos black… mas não é parado pela polícia?!”. A música levanta uma questão muito debatida na atualidade, ao mesmo tempo em que convida seu povo a dançar neste mar de ideias.
”Sou Preto Mesmo” assume uma indignação com aspectos que historicamente diminuem a luta do povo negro por respeito e visibilidade. Para Dani Nega, enquanto vivermos em uma sociedade que maquia o racismo não seremos iguais. “Muitas vezes a apropriação da cultura negra tem como discurso o fato de que somos todos iguais e acaba esquecendo ou não assumindo os seus lugares de privilégio. A música caminha por este fio condutor: É preciso saber quem se é, a cor da sua pele e os seus privilégios”, conta a atriz-MC.
Craca, alter ego do produtor musical Felipe Julián, consuma este mergulho sensorial com uma sonoridade ímpar, de matriz eletrônica - produzida a partir de dispositivos eletrônicos e traquitanas criadas pelo próprio artista - e com doses de flautas e trombone, que conduzem este single como um instrumento para fazer humanos dançarem.
O disco de estreia da dupla propõe um repertório de grande força autoral em seus discursos e tessituras, com o som aliado ao videomapping que Craca vêm apresentando desde 2013.