O universo sertanejo, musical e particular de Elomar

Exposição mostra a vida e a obra do cancioneiro conhecido por Vinícius como príncipe da caatinga

Elomar: primoroso compositor de óperas e músicas para orquestraO célebre compositor Elomar Figueira Mello se recusa a dar entrevistas e não é simpatizante da mídia e do mercado. Mas quem estiver interessado em conhecer mais sobre esse nobre sertanejo tem a oportunidade de visitar a 25ª mostra Ocupação – série idealizada pelo Itaú Cultural para ativar o diálogo entre gerações. A exposição apresenta a vida, obra e processo criativo de veteranos, como Elomar. A Ocupação Elomar fica em cartaz no instituto Itaú Cultural até 23 de agosto.

O espaço expositivo no Piso Paulista se transforma em um excerto da fazenda onde ele vive, no sertão da Bahia, e abre a porteira para revelar o universo deste compositor que se celebrizou por meio de músicas dos discos “Na Quadrada das Águas Perdidas”, “Das Barrancas do Rio Gavião”, “Auto da Catingueira”, “ConSertão” ou “Concerto Sertanez”, entre tantos outros, e cuja vida e obra são objeto de teses de mestrado e doutorado nas mais importantes universidades brasileiras e de outros países.

Reconhecido como autor de um cancioneiro primoroso, compositor de óperas e músicas para orquestra, realizador de concertos memoráveis, Elomar Figueira Mello, já era chamado, há 40 anos, por Vinícius de Moraes, de príncipe da caatinga. Ele canta inspirado no falar sertanejo e na musicalidade trovadoresca da Idade Média, renovada pela música contemporânea. Com mais de quatro décadas de carreira, conserva uma postura avessa ao que considera mercantilização da arte. Vive em Vitória da Conquista, onde nasceu, e passa a maior parte do tempo na Casa dos Carneiros, no povoado da Gameleira, distrito de Iguá, a 20 quilômetros da sua cidade natal.

A exposição

Na mostra do Itaú Cultural, o público pode ver de perto como Elomar compõe – em suportes diversos, como papel e fita, para depois o filho montar –, trechos de originais dos romances, tirinhas do bode Orelana, personagem de Henfil inspirado por ele, as músicas mais marcantes de sua carreira, poema inédito, cartas, e objetos pessoais. E, ainda, trechos da entrevista dada pelo musico à equipe do Itaú Cultural que faz a curadoria – Núcleos de Música e da Enciclopédia.

Respeitando a postura de Elomar, nesta Ocupação não há fotografias suas, mas sim desenhos feitos por seu conterrâneo Juraci Dorea representando a sua figura, a sua música e o seu mundo. São aquarelas em guache que lembram xilogravuras comuns nos cordéis. Há objetos que fazem parte do seu cotidiano, composições, textos e manuscritos autorais, papéis e envelopes com seus rabiscos, desenhos, listas, palavras inventadas. Toca-discos reproduzem as músicas de seus LPs originais (veja a lista no final). Há fotos das paisagens que o cercam, de seus cães, carneiros, cavalos, e dos lugares que o inspiram a compor. Audiovisuais recordam passagens de sua trajetória.

Uma representação do mundo particular de Elomar também foi transportada para o espaço desta Ocupação. A entrada à mostra tem uma cerca composta da mesma forma e com as mesmas madeiras com que ele fez a de sua casa – idealizadas pelo próprio músico e batizadas Gabriela, nome de sua neta. O interior procura ser fiel ao ambiente onde o músico vive e compõe.

Sete janelas fazem parte deste cenário, algumas das quais transmitem, em vídeo, a paisagem que se vê das suas próprias; sete candeeiros, como em sua casa, iluminam o espaço. Este número tem uma atenção especial na música de Elomar. Para diversas culturas, representa a perfeição e a unidade, e corresponde aos dias da semana, às esferas celestes, e aos galhos da árvore cósmica, entre outros simbolismos possíveis. É o número da completude humana e da perfeita união do masculino ao feminino.

Uma mesa abriga fac símiles de suas criações. Vitrines exibem como ele trata a palavra, um poema inédito, o seu projeto para a Universidade Leiga Sertaneza, trechos de outras obras e também trabalhos de mais uma faceta sua pouco conhecida, a de arquiteto. Como Elomar jamais compõe ao rés do chão, o visitante desta Ocupação, pode imaginar como ele cria o seu repertório subindo até uma espécie de mezanino criado ao fundo deste espaço, que contém o seu histórico musical.

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